Ayahuasca: o que é e como vem sendo usada para expandir a mente
Num tempo onde a busca pelo bem-estar e pela alta performance em diferentes áreas é incansável, cada vez mais uma bebida milenar vem atraindo holofotes pelo seu poder de expansão da mente: a ayahuasca (ou cipó dos espíritos). Comumente usado em rituais religiosos como Santo Daime, a União do Vegetal e A Barquinha, que são um produto da fusão de diferentes crenças, o chá é feito a partir de uma combinação de duas plantas amazônicas: o cipó jagube e o arbusto chacrona. Seu consumo é permitido no Brasil para fins religiosos e ritualísticos, pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad).
Mas se por aqui a ayahuasca tem permissão para ser usada, em alguns países pelo mundo a bebida é proibida por conter uma substância chamada DMT (Dimetiltriptamina), que pode ser sintetizada para a produção de outras drogas, estas, ilícitas. A presença de grande quantidade da substância no chá, aliás, foi o que motivou a prisão do brasileiro Eduardo Chianca, em 2016, pela polícia Russa. O engenheiro e professor de terapias alternativas foi pego ao tentar entrar naquele país com 4 garrafas da bebida. E apesar de declarar que seriam para consumo próprio, foi condenado inicialmente a 6 anos e meio de prisão. Peritos brasileiros do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, no entanto, questionaram o resultado dos laudos russos, alegando que a quantidade de DMT seria cerca de 350 vezes menor. Eduardo teve sua pena reduzida para 3 anos de prisão e agora tenta ser transferido para o Brasil.
Alucinações ou aumento da percepção?
Há quem diga que trata-se de uma bebida alucinógena – resultado da presença do DMT -, que provoca alterações na percepção, na capacidade de pensar e no estado de ânimo de quem a ingere. Outros defendem que a ayahuasca é enteogênica, ou seja, seu uso amplia a percepção e a possibilitando acessar o subconsciente, permitindo perceber a realidade com maior clareza. Efeito semelhante ao de uma meditação profunda. De acordo com Luís Fernando Tófoli, doutor em psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP), muitos efeitos do chá – inclusive no tratamento de dependentes químicos – ainda estão sendo estudados, mas uma coisa já foi comprovada: a ayahuasca não vicia.
Ritual indígena da ayahuasca
Assim como no Brasil, nos Estados Unidos e em vários outros países do mundo a ayahuasca vem se popularizando especialmente em pequenas “cerimônias” religiosas, lideradas por um indivíduo que pode se chamar xamã, ayahuasquero, curandero, vegetalista ou apenas curador. Um dos mais conhecidos efeitos colaterais da bebida, os vômitos (ou purga) são bem vistos pelos participantes do ritual, que acreditam ser um processo natural de limpeza e purificação do corpo, que não deve ser evitado.
O ritual, originalmente realizado por índios da Amazônia, é feito preferencialmente em lugares abertos e em contato com a natureza. Para se iniciar, geralmente é preciso ser indicado por algum membro e passar por uma sabatina, já que a ingestão da bebida não é aconselhada para pessoas que usam drogas, tenham doenças psiquiátricas ou neurológicas e façam uso de antidepressivos. Além disso, dias antes é preciso ficar sem comer carne e sem ingerir bebidas alcoólicas, entre outras regras simples.
Durante o ritual, os praticantes sentam-se em um círculo, uns de frente para os outros, e são convidados a beber o chá, cujo gosto é descrito como forte e ácido. Pouco tempo depois seus efeitos são percebidos no corpo e na mente. As sensações descritas são as mais variadas, desde uma ‘relaxante tranquilidade’ até ‘agitação severa’.
Busca pela plenitude
Um estudo conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto analisou a atividade cerebral de cinco homens e cinco mulheres, entre 24 e 48 anos, antes e após 40 minutos da ingestão da ayahuasca. A pesquisa, feita através de ressonâncias magnéticas, concluiu que a bebida ativa uma região do cérebro relacionada à memória e outra ligada à visão, ainda que a pessoa esteja de olhos fechados. Estudos anteriores realizados pelos mesmos pesquisadores concluíram que as substâncias presentes no chá atuam na serotonina, neurotransmissor ligado às sensações de prazer e bem-estar.
Muito ainda está sendo estudado sobre os efeitos intrigantes da ayahuasca, que variam abruptamente de pessoa para pessoa, mas seus entusiastas garantem que seja qual for o efeito sentido durante o ritual, a sensação de plenitude é garantida por tempo prolongado. O curioso é observar que nos tempos onde tantos produtos sintéticos são estrelas, a atração por um chá natural e feito de forma artesanal soa quase como uma volta às origens.
Curadoria: The New Yorker, Fantástico, Hypeness, G1, Universo Místico, G1 – Ciência e saúde