Dismorfia corporal: a síndrome que deixa o indivíduo eternamente insatisfeito com seu corpo
A dismorfia corporal é uma doença silenciosa que preocupa médicos e psicólogos. A dismorfia é um termo usado para designar um transtorno psicológico onde a pessoa acredita ter defeitos físicos que não possui ou, se possui em nível mínimo, acredita ser acentuado. A definição consiste na constante insatisfação pessoal com o próprio corpo, levando a pessoa a casos clínicos de depressão em situações mais graves.
Em entrevista ao Be Bang, a cirurgiã plástica Ana Claudia Roxo, membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que é comum receber pacientes com transtorno dismórficos em suas consultas. Segundo a médica, é normal um paciente não estar satisfeito com alguma parte do seu corpo. No entanto, esse problema passa a se tornar uma disfunção psicológica quando prejudica o relacionamento do indivíduo com a sociedade. “Todo mundo tem alguma coisa que não gosta em seu corpo. Se aquilo que lhe incomoda está impedindo a pessoa de trabalhar, de se relacionar, e julga ser o que não gosta do corpo o motivo do problema, é hora de procurar ajuda psicológica”.
O transtorno dismórfico ocorre com ambos os sexos e começa geralmente no fim da adolescência e início da fase adulta. A dismorfia se apresenta em três tipos: vigorexia, anorexia e bulimia.
Entenda as diferenças entre os tipos de transtorno:
Vigorexia – quando o culto ao corpo, aos músculos, ao exercício físico, à alimentação restrita considerada ‘saudável’, são a prioridade absoluta da pessoa. Por mais musculoso, por mais dentro do padrão estético que a pessoa esteja, ela enxerga defeitos nela e com isso gera muito sofrimento para si.
Anorexia nervosa– é um dos transtornos mais severos, segundo a psicóloga clínica e bariátrica, Camila Stefan de Andrade. “É o único adoecimento capaz de levar a óbito, de matar. Porque a pessoa que tem anorexia nervosa, num quadro severo, ela morre de inanição, ela morre de fome. É muito perigoso e muito triste. Com anorexia nervosa a pessoa se enxerga gorda, obesa, mesmo pesando 35 quilos. É uma distorção da autoimagem extremamente distorcida. É a privação total e completa do alimentar-se. A pessoa se alimenta apenas para não cair”.
Bulimia – Muito comum entre as mulheres. É quando a pessoa tem compulsão alimentar. Ela faz um alta ingestão calórica seguida de vômitos e laxantes. “Come-se muito e depois tira-se tudo numa tentativa de ter as duas coisas: o prazer do aimentar-se e o prazer de ser magra. Mas a bulimia gera outros adoecimentos: hérnia de hiato, problemas gástricos e estomacais e intestinais, por conta desses grandes estímulos forçados. Todos esses adoecimentos geram muito sofrimento para o portador.”
Questionário para identificar o problema
A cirurgiã revela que o método para tratamento do distúrbio começa com uma ‘desconfiança’ durante a consulta com o paciente. Um questionário elaborado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, então é apresentado a ele. Nele, a pessoa é levada a responder muitas perguntas que ajudam a identificar o problema antes dele ser submetido a uma cirurgia. “Às vezes operar esse paciente não vai adiantar. Ele valoriza aquilo muito mais do que deveria valorizar. A forma mais fácil de identificar o dismorfismo é quando a pessoa passa a vida focada em um mesmo problema em seu corpo. Antes dele ser submetido a tão desejada cirurgia, precisa ter um acompanhamento psicológico para tentar desvincular todos os problemas que têm na vida e que o levaram a supervalorizar o defeito em si.”
Ciência desconhece a cura
A psicóloga Camila Stefan ressalta que até hoje a ciência não descobriu a verdadeira causa e a origem dos transtornos disfórmicos. “Algumas pesquisas americanas dizem que o cérebro dos portadores do transtorno disfórmico têm um padrão cerebral que facilita enxergar a própria imagem distorcida, mas é tudo muito imaturo. Não existe uma afirmação”, pondera em entrevista ao site.
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“Eu, como uma psicóloga fenomenológica existencial, trabalho muito mais com pressupostos de sentidos e significados dados para as experiências vividas criadas a partir do jeito que a gente vive. O olhar que damos para as coisas que acontecem com a gente. Não posso afirmar o que causa o transtorno disfórmico mas, posso sim, através da psicologia fenomenológica existencial pensar num tratamento para esse transtorno. Entendendo, compreendendo e trabalhando, ressignificando esses sentidos e significados restritos que adoecem.”
Camila lembra que não há cura para o dismorfismo. “O processo de tratamento não é rápido. Leva um tempo. A ideia de um tratamento como esse não é a cura. É melhorar a qualidade de vida, a relação desse indivíduo com seu próprio corpo, com o cuidar de si. Nesses casos, sempre aliado a um processo psiquiátrico. Um médico e medicamentos são fundamentais em processos dismórficos”.